domingo, 2 de setembro de 2018

the new art fest '18


Introdução


Este blogue é um desejo, um programa provisório, e uma visão do festival deste ano.
The new art fest '18 tem o seu foco principal na arte eletrónica e digital americana, da Terra do Fogo ao Alasca. Considerámos o intervalo dos últimos 25 anos, durante o qual emergiu um fenómeno global chamado Internet.

Estabelecemos para tal uma cronologia subjetiva dos acontecimentos, e elegemos os autores e por vezes as obras que consideramos especialmente exemplares da metamorfose em curso.

As chamadas artes visuais de vanguarda de autores americanos começaram a mover-se em 1952 para fora dos seus enquadramentos materiais e disciplinares convencionais.

Assim foi com John Cage e a obra 4’ 33” no ano do meu nascimento, prosseguindo em 1961 com os métodos heurísticos de George Brecht. Edward Rucha, em 1962, Bruce Nauman, em 1965, Mel Bochner, Robert Smithson, Allan Kaprow, Robert Morris e Dan Graham, em 1966, Experiments in Art and Technology (E.A.T.), de Billy Klüver, Fred Waldhauer, Robert Rauschenberg e Robert Whitman, em 1967, Nam June Paik e Charlotte Moorman, e ainda Tony Conrad, em 1969, formam parte de uma geração que mudou para sempre a arte americana, abrindo paradoxalmente as portas à emergência de uma arte imaterial suportada por uma nuvem tecnológica, computacional, digital e rizomática que continua a expandir-se.

É depois nesta geração que a nossa história começa, saltando por cima de todas as regressões nostálgicas, especulativas ou simplesmente maneiristas e populistas que se lhe seguiram.

A história da era digital das artes está ainda por contar, e sobretudo por assimilar à luz de uma reforma profunda dos conceitos de ‘galeria’, ‘exposição’, ‘museu’, ‘obra de arte’ e ‘posse’ de uma obra de arte na era da sua radical desmaterialização, reprodutibilidade e derivação—uma era onde, por outro lado, a receção estética é modulada e alterada pelo público à medida das suas próprias expectativas, deixando a propriedade da arte de assumir a figura de uma posse possessiva.

America online & the net generation é uma das representações possíveis da arte pós-contemporânea, no sentido em que esta deixou de caber no espaço económico e arquitetónico tradicional da arte contemporânea.

Podemos ver a coisa como um ensaio online, com a sua hidra de links, de que os espaços físicos convocados mais não são do que outras tantas oportunidades para um diálogo IRL (in real life), quer dizer, como a mesa posta para um grande banquete de carne e osso.

Ao tornar público este blogue (the curator’s blog) estou, por assim dizer, a divulgar um manifesto cuja concretização no aqui e agora de um festival em Lisboa dependerá sobretudo da capacidade subjetiva, económica e institucional dos seus muitos protagonistas.

É caso para dizer, abram-se as portas do futuro anterior!

António Cerveira Pinto

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