terça-feira, 4 de setembro de 2018

MAAT "saneia" Pedro Gadanho


Um desfecho esperado há já algum tempo. 


O que então não passou dum zum-zum tornou-se realidade. O MAAT é um conceito errado; museu de arte, arquitetura e tecnologia é uma espécie de albergue espanhol, ou, neste caso, mais propriamente, um saco de gatos. Outro erro crasso do projeto é a sua identificação canina com a EDP, uma ex-empresa pública oferecida ao senhor Xin Jinping, que tem abusado da sua posição dominante impondo aos portugueses a energia mais cara da União Europeia (em paridade do poder de compra).

A China não aprendeu em tempo o significado da expressão 'softt power', e já é tarde para aprender. Assim sendo, deixando a coisa entregue à corte indigente indígena, o mais provável é termos o João Fernandes à frente do MAAT depois dum embuste concursivo qualquer e de um curso acelerado de Mandarim. O problema das ditaduras, incluindo naturalmente as ditaduras culturais, é que entram em pânico com a concorrência, e morrem de medo da sua própria morte.

Post scriptum — Alguns amigos viram nesta crítica um ataque especialmente duro contra o trabalho de Pedro Gadanho no MAAT. Mas não é! Para evitar más leituras, aqui vai:
  1. O erro de Pedro Gadanho, que imagino ter resultado do colete de forças em que se viu metido, foi não ter exigido uma definição mais clara e coerente para o museu que a Fundação EDP viria a patrocinar. Faria todo o sentido que fosse um museu dedicado à energia, ou à tecnologia, ou um museu de arquitetura, pois não há nenhum no nosso país, estando, por outro lado, a menos de 500 metros do Museu Berardo, e a concorrer por um público cada vez mais escasso, contra a a Fundação Gulbenkian, o mausoléu da Caixa que também se dedica aos contemporâneos, e ainda contra o Museu de Arte Contemporânea do Chiado! Num país falido, em que os arquitetos sem emprego se dedicam cada vez mais ao design, às artes visuais e até à música, era de prever que um projeto a cavalo entre as artes plásticas e a arquitetura, não sendo uma coisa nem outra, não iria ter vida fácil, sobretudo quando os parcos recursos institucionais que sempre foram deixados aos artistas (exceção feita, claro, dos artistas do regime que sofrem da síndrome da cadeira de Salazar) começaram a ser comidos pelo lóbi dos arquitetos do regime e seus amigos, e quando os arquitetos em geral pensarão, com justeza, que um museu de arquitetura em Lisboa poderia ajudar a civilizar os autarcas e a educar os patos-bravos.
  2. Por outro lado, observando o modo de recrutamento dos administradores da Fundação EDP, como aliás da generaldiade das instituições clientelares do Estado português, seria de esperar que não houvesse, como não houve, não há, nem haverá, estabilidade numa instituição que, afinal, se alimenta de lucros excessivos na exploração dum bem tão essencial, como é a energia. As fundações tornaram-se no nosso país coisas desconfiáveis, sobretudo porque foram tomadas de assalto pela casta político-partidária que é o regime que hoje temos.
  3. Finalmente, mas é o menos importante, as grandes exposições temáticas do MAAT não me convenceram, apesar dos bem sucedidos projetos de João Onofre, Miguel Palma e Gary Hill.

Pedro Gadanho sai do MAAT em JunhoFundação EDP estendeu o mandato do director por apenas mais nove meses.
ISABEL SALEMA 3 de Setembro de 2018, 20:25
Público 
O arquitecto Pedro Gadanho vai deixar a direcção do Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, no final de Junho de 2019, anunciou esta segunda-feira a Fundação EDP, em comunicado. A fundação tinha a possibilidade de renovar o contrato com Gadanho, que termina agora em Setembro, por mais três anos. Porém, de acordo com o comunicado, "a Fundação EDP e o arquitecto Pedro Gadanho decidiram, por mútuo acordo, prolongar a colaboração do director do MAAT até ao dia de 30 de Junho de 2019", apenas mais nove meses. "Pedro Gadanho assegurará, assim, um período de transição durante o qual a Fundação EDP irá desenvolver os procedimentos necessários para a escolha do novo director do MAAT", acrescenta o mesmo comunicado.  
"Não vamos fazer mais comentários", disse ao PÚBLICO o director-geral da Fundação EDP, Miguel Coutinho, acrescentando apenas que o novo director poderá ser escolhido através de um concurso internacional. O período de transição permitirá também a Pedro Gadanho finalizar a programação já desenhada para 2019.

Atualizado em 6/9/2018 00:45 WET


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domingo, 2 de setembro de 2018

the new art fest '18


Introdução


Este blogue é um desejo, um programa provisório, e uma visão do festival deste ano.
The new art fest '18 tem o seu foco principal na arte eletrónica e digital americana, da Terra do Fogo ao Alasca. Considerámos o intervalo dos últimos 25 anos, durante o qual emergiu um fenómeno global chamado Internet.

Estabelecemos para tal uma cronologia subjetiva dos acontecimentos, e elegemos os autores e por vezes as obras que consideramos especialmente exemplares da metamorfose em curso.

As chamadas artes visuais de vanguarda de autores americanos começaram a mover-se em 1952 para fora dos seus enquadramentos materiais e disciplinares convencionais.

Assim foi com John Cage e a obra 4’ 33” no ano do meu nascimento, prosseguindo em 1961 com os métodos heurísticos de George Brecht. Edward Rucha, em 1962, Bruce Nauman, em 1965, Mel Bochner, Robert Smithson, Allan Kaprow, Robert Morris e Dan Graham, em 1966, Experiments in Art and Technology (E.A.T.), de Billy Klüver, Fred Waldhauer, Robert Rauschenberg e Robert Whitman, em 1967, Nam June Paik e Charlotte Moorman, e ainda Tony Conrad, em 1969, formam parte de uma geração que mudou para sempre a arte americana, abrindo paradoxalmente as portas à emergência de uma arte imaterial suportada por uma nuvem tecnológica, computacional, digital e rizomática que continua a expandir-se.

É depois nesta geração que a nossa história começa, saltando por cima de todas as regressões nostálgicas, especulativas ou simplesmente maneiristas e populistas que se lhe seguiram.

A história da era digital das artes está ainda por contar, e sobretudo por assimilar à luz de uma reforma profunda dos conceitos de ‘galeria’, ‘exposição’, ‘museu’, ‘obra de arte’ e ‘posse’ de uma obra de arte na era da sua radical desmaterialização, reprodutibilidade e derivação—uma era onde, por outro lado, a receção estética é modulada e alterada pelo público à medida das suas próprias expectativas, deixando a propriedade da arte de assumir a figura de uma posse possessiva.

America online & the net generation é uma das representações possíveis da arte pós-contemporânea, no sentido em que esta deixou de caber no espaço económico e arquitetónico tradicional da arte contemporânea.

Podemos ver a coisa como um ensaio online, com a sua hidra de links, de que os espaços físicos convocados mais não são do que outras tantas oportunidades para um diálogo IRL (in real life), quer dizer, como a mesa posta para um grande banquete de carne e osso.

Ao tornar público este blogue (the curator’s blog) estou, por assim dizer, a divulgar um manifesto cuja concretização no aqui e agora de um festival em Lisboa dependerá sobretudo da capacidade subjetiva, económica e institucional dos seus muitos protagonistas.

É caso para dizer, abram-se as portas do futuro anterior!

António Cerveira Pinto