domingo, 10 de fevereiro de 2019

O vazio e a arte contemporânea


Gwen van der Zwan. "I made blood sausage using my own blood"

Os intelectuais de extrema direita intensificaram nos últimos anos uma guerra de propaganda contra a arte contemporânea. Dirigem uma campanha organizada contra aquilo que dizem ser uma arte que é feita apenas para chocar a sensibilidade do espectador e fazê-lo pensar mais do que aquilo que sabe.
Pedro Portugal, "Porque é que os conservadores odeiam a arte do presente", Ípsilon, Público, 8/2/2019.

Pedro

Se tivesses escrito "extrema direita", em vez de "conservadores ", no título da tua crónica, terias acertado no alvo. Ao confundires conservadores com extrema  direita cometeste um erro grosseiro.


Como sabes, melhor do que eu, os grandes colecionadores deste mundo são politicamente de direita, conservadores, liberais e neoliberais. Raramente são socialistas, e menos ainda comunistas. Estes, como também sabes, são regra geral conservadores em matéria de artes visuais contemporâneas. Até porque para se ser colecionador de arte contemporânea numa era de especulação financeira e hedonista exacerbada é preciso ser rico, um atributo das pessoas de direita e não de esquerda, salvo no caso de algum banqueiro anarquista, mas ainda aqui estamos quase sempre na presença dum vigarista ideológico, ou dum pirata.

No entanto, o teu artigo coloca uma questão importante. Há, na realidade, uma metamorfose oportunista e alienada na chamada arte contemporânea tardia, a qual mais não é do que uma mastigação da arte europeia e americana do século 20. Pior: a essa mastigação, normalmente com um prefixo "pós" qualquer, sucedeu uma vaga de artistas "investigadores", que mais não são do que subprodutos do ensino artístico de massas atrelados a uma lógica de financiamentos e subsídios públicos, cheirando quase sempre a neo-academismo que baste.

A arte que se afirma apenas pela sua arrogância plutocrata não pode, mais cedo ou mais tarde, deixar de provocar uma revolta popular, aliás cada vez mais notória no vazio dos museus e das galerias de arte contemporânea. Este vazio, sim, importa discutir, até porque os governos de todo o mundo, ou já estão, ou caminham rapidamente para a falência.

António

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