segunda-feira, 6 de março de 2017

A Segunda Cidade

Snapart/ Dasha Battelle

Segunda Cidade—o artista e os seus exoesqueletos

Por António Cerveira Pinto

Este seminário (reservado a convidados) faz parte integrante da edição de 2017 do The New Art Fest e conta com a colaboração da Ocupart e da Livraria Sá da Costa—Editora. Se pretender participar escreva-nos dando conta da sua motivação.

Vou iniciar um ciclo de conversas sobre a ideia de uma segunda cidade—cognitiva, algorítmica, eletrónica, imaterial, digital—que já existe interconectada sob a forma de redes e nuvens, embora dispersa e da qual temos uma consciência ainda parcial e difusa.

Estas conversas dizem respeito a uma metamorfose técnica e social da humanidade, cuja perceção procurarei estimular sob o ângulo privilegiado da criação artística, começando desde logo por propor uma conversa sobre a metamorfose da arte e do artista nesta transição de uma sociedade pós-moderna para uma sociedade pós-contemporânea.

A sociedade pós-moderna, ou a condição pós-moderna, refere-se, segundo a visão perspicaz do já desaparecido filósofo francês, Jean-François Lyotard, ao fim da teleologia moderna, sob a forma de uma dissolução das grandes narrativas (marxismo, democracia, arte moderna) em micrologias e sistemas artificiais de complexidade crescente (ciência, tecnologia, globalização, multiculturalismo). No campo da arte, esta transição deu lugar à emergência da chamada ‘arte contemporânea’—uma tentativa efémera de transformar a arte moderna numa arte eterna, especialmente desenhada para manter a inércia institucional e comercial do património constituído, bem como da especulação financeira associada a esse património e à produção corrente de novos artefactos.

O colapso do tempo moderno, de que o tempo pós-moderno é a transição, deu lugar a um tempo novo, instável no seu começo, de contornos ainda imprecisos, a que chamo mundo pós-contemporâneo, e onde se incluem logicamente as sociedades pós-contemporâneas e uma cultura global pós-contemporânea—de que a arte pós-contemporânea é uma inevitável consequência.

O que distingue radicalmente este novo tempo pós-contemporâneo é a emergência de um mundo artificial inteligente, no qual o tempo também é artificial, nomeadamente no sentido em que deixa de fazer sentido dividi-lo entre passado, presente e futuro. O tempo pós-contemporâneo não corre como correm os rios que ainda correm, nem obedece à estrutura temporal dos seres humanos e das suas fantasias. O tempo pós-contemporâneo e o que este tempo gera é o resultado de uma coisa nova. A essa coisa nova, a que Bruno Latour, Michel Callon e John Law, entre outros, chamam ANT (Actor-network theory), e outros entendem como a emergência do pós-humano no humano, eu prefiro chamar sociedade pós-contemporânea.

O artista, segundo Alfred Gell, é simultaneamente um agente e um paciente entre o objeto arte e a comunidade. Não é a pura subjetividade narcisista que, de certo modo, a modernidade acolheu e potenciou na sequência da libertação revolucionária do invidíduo pós-medieval. O artista é um artífice competente e obstinado de uma relação subjetiva concreta que é estabelecida no cerne das comunidades em movimento, entre os seus membros e aquilo que os rodeia. Esta mediação através da forma, ora demiúrgica, ora pagã, exige e exigiu sempre o domínio da técnica, no sentido de um saber fazer potencial cuja aprendizagem e perfeição só está aparentemente ao alcance de alguns. Seria, pois, muito estranho que os artistas de hoje perdessem o contato com complexidade e alta frequência das tecnologias pós-contemporâneas.

Creio que este preâmbulo poderá servir para introduzir o tema da primeira sessão do acelerador de partículas criativas em volta da Segunda Cidade, ou 2.C): O Artista e os seus exoesqueletos.

Segunda Cidade
Acelerador de Partículas Criativas 2.C

Sessão n.1
7 de março, terça-feira, 18:00-19:00
Livraria Sá da Costa
Praça Luís de Camões, 22, 4º andar. Lisboa

+(351) 927 569 362


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