segunda-feira, 16 de março de 2015

Trust me

Antonio Cerveira Pinto
Trust me, 2015
Digital picture


O silêncio da arte portuguesa é, por vezes, ensurdecedor


Se nos dedicássemos apenas à pintura, à pintura abstrata, ou à fenomenologia minimalista, seria compreensível manter silêncio sobre o colapso em curso do sistema financeiro e sobre a sorte nada invejável de alguns banqueiros, financeiros e especuladores profissionais, passando ao lado da imensa tragédia que entretanto se abateu e segue a sua rota destruidora contra milhões de pessoas e contra muito do que as rodeia.

Mas, que eu saiba, a arte tem vindo a derivar para uma espécie de comentário filosófico, antropológico e até político sobre a realidade que conceptualiza e transporta em filigrana, seguindo estratégias mais ou menos metonímicas, para dentro das galerias de arte, museus, bienais e outros eventos semelhantes.

No entanto, pelo menos em Portugal, a dita e redita arte contemporânea, ou está calada, ou prefere comentar o que está para além das suas vivências quotidianas.

Pensará, provavelmente, que estamos tão só na presença de uma tempestade violenta, mas passageira.

Gostaria, no entanto, de avisar os artistas como eu, os curadores como eu, os escritores e críticos como eu, e as instituições em geral, para a natureza sistémica deste temporal.

As coisas não ficarão como dantes, sobretudo no mundo do chamado consumo discricionário e cultural.

Quererão conversar sobre isto?

2 comentários:

  1. Tens toda a razão meu caro amigo. Gosto muito da tua fotografia, está altamente.

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  2. talvez o facto desse sistema financeiro em falencia ser o potencial comprador do mercado de arte, explique em boa parte esse silencio. Acho que ainda não foi resolvida a contradição que existe entre esse tipo de arte e o mercado (de luxo) onde está inserida. Talvez essa arte só possa acontecer verdadeiramente fora das galerias. Tal como tu fazes, e bem! Um abraço.

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