terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Portugal antecedeu o Google Maps

Foi com uma máquina destas que se calculou o Portugal Digital (1997-98), um conceito meu, desenvolvido com uma equipa de engenheiros informáticos da UNL, para a EXPO '98. As semelhanças deste projecto com o Google Maps, lançado em 2005, não deixam de ser, no mínimo, irónicas — ACP

Os pontos nos is
por ANTÓNIO CERVEIRA PINTO

Publico um artigo de António Câmara, que acabo de pescar, e o meu comentário, sobre uma obra que imaginei e dirigi, enquanto responsável pelos projectos do Pavilhão do Território (cuja direcção-geral fora então entregue a Leonel Moura por João Cravinho), para que a verdade não ande por aí travestida.

Artigo de opinião de António Câmara no Jornal Expresso, 28 de Julho de 2008.
O Portugal Digital, exibido na Expo-98, permitia aos visitantes voar sobre o território e consultar bases de dados geo-referenciadas. Foi precursor dos actuais Google Earth e Microsoft Virtual Earth. O sistema representava uma visão de futuro para a exploração de um país. As tecnologias subjacentes resultaram da investigação de equipas da Universidade Nova de Lisboa (UNL), Instituto Superior Técnico (IST) e do Centro Nacional de Informação Geográfica (CNIG), que liderava o projecto. A Imersiva, uma “spin-off” da UNL, foi, entretanto, criada para explorar a componente de realidade virtual. Em 1998, Portugal detinha um capital de conhecimento praticamente único na Europa e com um número limitado de concorrentes na América do Norte. As equipas portuguesas que trabalhavam na criação de mundos virtuais tinham ainda um apoio significativo da diáspora: o professor José Encarnação do Fraunhofer Institute na Alemanha, líder mundial em computação gráfica; e Ken Pimentel e Kevin Teixeira, pioneiros em empresas como a Sense8 e Intel nos EUA. Mas o Portugal Digital não foi continuado e as tentativas dos promotores do projecto, para o expandir para a escala europeia, não foram bem sucedidas. A Imersiva, adquirida pela Portugal Telecom, nunca teve a oportunidade de transformar a tecnologia num produto. Os custos de equipamento e a largura de banda eram inapropriados. Mas não houve uma visão, em Portugal e na União Europeia, semelhante à proclamada por Al Gore no seu documento ‘The Digital Earth’ de 1998 (http://www.isde5.org/al_gore_speech.htm ). Empresas como a Keyhole (adquirida pela Google) e GeoTango (comprada pela Microsoft) implementaram a visão de Gore. O Google Earth e o Microsoft Virtual Earth já têm mais de cento e cinquenta milhões de utilizadores. Passaram-se dez anos. A União Europeia continua sem perceber que a invenção vem de pequenos grupos e não de redes com dezenas de parceiros. Portugal está, no entanto, mais aberto à inovação. Mas, a diferença reside no You Tube. O Portugal Digital teria sido um estrondoso sucesso global se esse canal de difusão existisse em 98.
António Câmara

Comentário publicado em Lugar do Conhecimento
Já agora vale a pena anotar que a ideia original foi minha, e que fui eu que abordei as instituições que viriam a desenvolver comigo este projecto efectivamente pioneiro a nível mundial, mas que a burocracia, alguma sede de apropriação intelectual desonesta, e a euforia dot.com acabou por reduzir a zero. Seria bom que este artigo de António Câmara tivesse mencionado a ficha técnica completa deste projecto. Lembro finalmente que este projecto, como outro que igualmente saiu da minha cabeça para a Expo98 (um par de golfinhos virtuais interagindo com humanos num ambiente de realidade expandida que reproduzia o estuário do Sado), e que contou com a colaboração competente e amigável do INESC, poderia ter colocado Portugal em matéria de inovação, criatividade e indústria num lugar onde afinal não chegou. Esta oportunidade de colaboração entre tecnologia e arte foi deveras produtiva e original. Just for the record ;)

António Cerveira Pinto

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